António Eloy

Discutindo a representação

Tudo o que o partido diz que é verdade, é verdade. Só podemos ver a verdade pelos olhos do partido. (Orwell)

A beleza não é uma qualidade inerente às coisas em si mesmas, ela só existe no espírito que a contempla, e cada espírito apercebe-se de uma beleza diferente. (Hume)

 

Mais de 50% dos eleitores da Madeira não outorgaram qualquer representação aos eleitos.

Juntando aos 47% de abstencionistas activos os 4% de votantes que votaram branco, nulo ou inútil, ultrapassamos largamente os 50%.

Na Madeira, como ora costuma ocorrer por todo o lado a representação é pífia, o Governo não chegará em qualquer caso a representar senão pouco mais de um quinto do eleitorado (depois deste escrito aconteceu a inacreditável estória de claro oportunismo tanto do PSD como do PAN, que nem sequer comento, ao nível de qualquer excreta).

Primeira conclusão é que mesmo com o melhor sistema eleitoral (o método de Hondt sobre a totalidade, seja só como corrector de pequenos círculos), em que todos os votos, salvo os inúteis, contam, o povo não vai em delegações, em discursos fátuos, que se desdizem logo na noite eleitoral, como se não os tivéssemos ouvido um ou dois dias antes. Eles pensam que somos todos da mesma laia deles. Mas não.

Sou, cada vez mais contra o actual sistema ao qual preferiria um sorteio aleatório para escolha dos deputados, que bastaria passarem por um crivo de sanidade (que deveria ser extensivo aos órgãos uninominais, que merecem a minha oposição total, veja-se o actualmente em curso!) e ala sorteio e à Assembleia que nos representariam melhor que aqueles 47 que serão pagos, pelos meus impostos, mais que os deputados nacionais e, ainda, com  mais mordomias  (e os 250 nacionais pelo mesmo modo, com o sistema de direitos, jurídico/constitucional, a ser garante da manutenção das liberdades públicas e da legalidade)

O sistema da hegemonia, que não é só o imposto pelo Jardim (que é certo acabou com o feudalismo, a colonia, articulada com as distribuições de água das levadas, na Madeira, mas trocou por outras dependências), domina a realidade virtual construída também pela comunicação social, onde um discurso que saia da caixa não tem lugar.

A nível nacional é mais do mesmo. A abstenção e o não voto, seja pelo dito em partidos que não existem, seja os brancos ou nulos continuam a dominar um sistema que tem pouco, muito pouco que ver com o que nos dizem que remonta aos gregos. Pois na Grécia não havia partidos, Péricles era votado pelos projectos e pela oratória (só por homens, numa sociedade escravocrata! É certo) e podia ser demitido se um certo número de cidadãos o requeresse (claro teria que passar pelo voto de Assembleia, que era…. de braço no ar).

Pois embora nos digam que vivemos em democracia tal não é verdade.

É certo que temos algumas liberdades, a de expressão cada vez menos com a informação toda, ou quase toda, dominada pelos grupos económicos e pela hegemonia que domina os discursos, e o sistema judicial dominado por uma casta que é também manietada por jeitinhos e por quem tem dinheiro (veja-se os custos judiciais). Pois as liberdades públicas ai, ai onde param as liberdades públicas…

Mas é o sistema eleitoral, aliás em todo o lado, nalguns casos totalmente obsoleto como nos Estados Unidos, que na prática são um sistema de partido único ( 2 partidos é uma anedota) e que está moribundo.

Aliás deveria chamar-se como corresponde, e que não tem nada a ver com qualquer transparência, partidocracia. E sabendo, e já andei por inúmeros partidos, sabendo como estes funcionam a democracia é uma mera ficção. Uma só palavra.

Deixo ainda duas notas finais, mas voltarei ao tema.

1- O património, o ambiente, a cultura, e claro esses estão articulados com a qualidade de vida e a saúde, educação, habitação, não têm partido e só interesses financeiros hegemónicos ligados ao capitalismo mais libertino, motivam que sejam objecto de conflitos, e claro a corrupção.

2- Seria possível encontrar, mesmo no actual sistema, formas de representação que não seja a radical que defendo e que apresento só, só mesmo para aguçar o pensamento.

 

Nota

Sou informado e aqui divulgo que se realizará uma sessão evocativa do Rui Cunha, que aqui mencionei e chorei em artigo do mês passado, numa das organizações de que ele fez parte a L.P.N. na sua sede nacional em Lisboa no dia 12, pelas 18 horas. Estarei presente em espírito, dado ter um compromisso  contra a Mineração, em Alconchel, o I Encontro Ibérico sobre os Impactos Sociais e Ambientais dessa, de dia 12 a 15.


12/10/2023

 

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