• António Bica
Na Guerra de 1967 os Palestinianos não abandonaram a sua terra
Depois da chamada “guerra dos 6 dias”, em 1967, toda a Palestina ficou ocupada pelo exército judeu israelita desde o mar até ao rio Jordão. Mas a população palestiniana mostrou-se determinada a manter-se na sua terra e nas suas casas, resistindo às acções do Estado de Israel para lhe criar condições económicas e sociais muito difíceis para a levar ao êxodo. Isso não aconteceu, tendo êxito a nova estratégia política palestiniana de manter a população firme nas suas terras e casas por mais injustas e desumanas que sejam as acções de perseguição pelos judeus israelitas.
A população palestiniana, apesar das graves dificuldades políticas e económicas criadas pelos invasores e ocupantes judeus israelitas, não abandonou o território e continuou a crescer. Isso impossibilitou os ocupantes de integrar os palestinianos com o seu território no Estado de Israel, como continua a ser sua pretensão. Se o fizessem, ou alteravam a Constituição israelita para retirar direitos políticos aos cidadãos palestinianos integrados no Estado de Israel, o que teria previsivelmente a oposição de largas camadas de cidadãos dos EUA de que é dependente, ou arriscavam-se a ver chegar ao poder político os palestinianos por eleições. Deste modo a ocupação de 1967 dos territórios palestinianos que restaram da ocupação de 1948 criou para o Estado de Israel um problema sem outra solução que não seja o fim da ocupação militar pelos judeus israelitas, o que não querem, ou a expulsão pela força dos palestinianos das suas terras e casas, que até agora não têm conseguido.
O Conselho de Segurança das Nações Unidas ordenou em 1967, pela resolução 242, ao Estado Israelita a desocupação dos territórios nesse ano ocupados, o que não foi cumprido por desinteresse dos EUA.
A partir da ocupação em 1976 pelos judeus israelitas dos territórios palestinianos até então não ocupados, procuraram os judeus usar os palestinianos como trabalhadores com baixos salários em benefício da economia judaica; judaizar Jerusalém, cercando-a de colonatos judaicos em terras de que expulsaram os palestinianos e dificultando a vida na cidade de Jerusalém aos palestinianos para que a abandonem; disseminar colonatos judaicos por todo o território palestiniano ocupado em 1966 em terras (e, nas cidades, em casas) de que expulsam pela força os palestinianos; destruir as casas dos palestinianos que mais se destacam na defesa dos direitos do seu povo.
Os palestinianos procuram organizar a resistência aos invasores e ocupantes judeus israelitas, incluindo entre os refugiados em outros países que haviam sido expulsos das suas casas e terras pelos judeus em 1948.
Os palestinianos reforçaram a sua organização de resistência laica e progressista, a O.L.P., não fazendo discriminação religiosa e defendendo a igualdade efectiva de homens e mulheres.
Privilegiou a O.L.P., na primeira fase, a luta armada contra os ocupantes judeus da Palestina sobretudo a partir da Jordânia. O rei Hussein da Jordânia, país onde há significativo número de palestinianos refugiados em 1948 por fuga à guerra judaica de terror contra eles, temeu a força revolucionária da O.L.P. e desencadeou brutais acções de repressão contra os seus militantes que se designam por fedain (os que se sacrificam pelo povo) em Setembro de 1970, tendo a organização militar da O.L.P. sido liquidada na Jordânia e obrigada a refugiar-se no Líbano.
Essa violenta acção repressiva do rei Hussein da Jordânia contra os combatentes palestinianos que lutavam pela libertação da sua terra ficou conhecida por Setembro Negro.
Sentindo-se traídos pelos governantes árabes, algumas facções de combatentes palestinianos não resistiram à deriva esquerdista radical: Sob a sigla “Setembro Negro” passaram a desviar aviões de passageiros, mataram atletas judeus israelitas nos Jogos Olímpicos de 1972 em Munique e desencadearam outras acções contra judeus e interesses judeus.
Em 1973 a O.L.P. reconheceu o erro político e, embora reclamando o direito de lutar pelas armas contra o ocupante judeu sionista, passou a privilegiar a componente política e diplomática da luta. Em 1974, os países árabes reconheceram a O.L.P. como «único representante do povo palestiniano». Arafate, representante da O.L.P., foi recebido depois nas Nações Unidas e a O.L.P. abriu representações diplomáticas na maioria dos países do terceiro mundo, nos países socialistas e em países do ocidente da Europa. Também em relação à presença de judeus na Palestina deixou a O.L.P. de ter a posição radical, assumida até 1967, de expulsão de todos os judeus da Palestina. Em 1969 passou a defender «a construção na Palestina de um Estado democrático em que coexistam muçulmanos, cristãos e judeus.»
A partir de 1974 a O.L.P. passou implicitamente a aceitar a existência de dois Estados na Palestina, um judeu e outro palestiniano, ao defender que, nos Territórios da Faixa de Gaza e da Cisjordânia, fosse constituído o Estado da Palestina. Apesar desta evolução política da O.L.P. liderada por Arafate, os judeus de Israel e os EUA continuaram a recusar negociações com o fundamento de que não podiam negociar com «terroristas». Os judeus de Israel procuraram, em vez de negociar com os palestinianos, levar o rei da Jordânia a, de novo, os trair, propondo-lhe dividir a Cisjordânia, integrando parte na Jordânia e outra parte em Israel, o que não conseguiram.
Em 1973 o Egipto tentou recuperar militarmente o Sinai ocupado por Israel. Essa ofensiva ficou conhecida por «guerra do Kipur» ou «guerra do Ramadão». O exército israelita foi surpreendido e sofreu baixas que não esperava. Embora tenha sido capaz de reagir com o apoio militar dos EUA, optou por negociar e desocupar o Sinai em 1979 em troca do reconhecimento formal de Israel pelo Egipto com estabelecimento de relações diplomáticas e comerciais. O mundo árabe durante a guerra de 1973 mostrou alguma unidade reduzindo drasticamente o fornecimento de petróleo aos países que mais eficazmente apoiaram Israel, incluindo Portugal então governado por Marcelo Caetano. A guerra do Kipur acabou com o mito da invencibilidade israelita e levou à resolução 338 das Nações Unidas que, no essencial, confirmou a resolução 242 de 1967, que estabeleceu os princípios para a paz, que são:
– Retirada dos militares israelitas dos territórios ocupados em 1967.
– Fim do estado de beligerância.
– Solução justa para o problema dos refugiados palestinianos.
– Reconhecimento da soberania e integridade dos Estados (incluindo de Israel e da Palestina).
Mas a paz separada com o Egipto obrigou, como moeda de troca para a desocupação do Sinai, ao compromisso de o Egipto não socorrer militarmente outros países árabes que fossem atacados por Israel, o que os palestinianos, a Síria e o Líbano sentiram como a «traição egípcia». Ficaram assim guardadas as costas dos judeus israelitas quando, em 1982, sob o comando do conhecido Sharon, depois chefe do governo de Israel, então ministro da guerra, invadiu o Líbano e se fizeram, por mão interposta, os massacres dos palestinianos dos campos de refugiados de Sabra e Chatila, nos arredores de Beirute.
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Redação Gazeta da Beira
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