A. Moniz Palme (Ed. 695)

A inoportunidade de certos feriados.

Há tempos escrevi sobre a situação criada pela supressão de alguns feriados do calendário oficial. E recordei que os ligados a alterações políticas só excepcionalmente deviam ser consagrados e mantidos.

Claro que não estou a falar do feriado do Primeiro de Dezembro, dia em que se festeja a libertação do jugo castelhanos e se comemora a recuperação da plena Independência e da Santa Liberdade. Aliás, e como todos tivemos a oportunidade de verificar, a grande maioria da população portuguesa reagiu contra o facto e criticou veementemente o governo que tal decidiu contra a vontade da generalidade da população, bem como de todos os sectores sociais e políticos da vida portuguesa. Neste caso concreto, não estamos perante um feriado determinado por modificações políticas internas e sim perante um feriado que está intrinsecamente ligado à nossa Independência. Não restam dúvidas…! Mas voltemos ao problema da justificação dos feriados de carácter político. Como já referi, um feriado decorrente de motivações políticas nunca deve comemorar situações fracturantes e divisórias da população, mas sim motivações que conglomerem todos sem excepção, isto é, acontecimentos em que todos ou, pelo menos, uma esmagadora maioria, esteja verdadeiramente envolvida na sua comemoração. E por esse motivo é que os feriados apenas excepcionalmente devem comemorar alterações de carácter político. Quando acontece uma revolução, nos primeiros tempos é comemorada a mesma pela grande maioria, mais que não seja pelas renovações que naturalmente desencadeou e com as melhorias concretas conseguidas. Querem um exemplo, o Feriado do 25 de Abril, que nos deu a possibilidade de uma vida democrática e que foi saudado pela esmagadora maioria da população portuguesa. Todavia, um feriado para comemorar a entrada em vigor da Carta Constitucional seria completamente descabido, por já nada nos dizer. As comemorações do 28 de Maio acabaram ainda no tempo da Segunda República do Estado Novo e muito bem. Se a revolução inicialmente teve a aceitação da generalidade da população portuguesa, quando o feriado do 28 de Maio foi suprimido era uma data que dividia politicamente a colectividade. Ora, o mesmo se passa com o 5 de Outubro. Foi feriado durante alguns anos, mas naturalmente deixou de o ser. Aliás, nunca tal revolução foi sufragada por um plebiscito eleitoral que perguntasse à população:- Querem uma república ou uma monarquia? Mas não, tal nunca aconteceu! Às primeiras eleições republicanas, onde a questão do regime não foi posta, somente os partidos republicanos, com candidatos republicanos puderam concorrer. Neste momento, uma grande percentagem de portugueses não acredita na chefia de estado republicana, que gasta mais dinheiro à colectividade do que as casas reais dos países europeus mais civilizados e democráticos, e o dobro da espanhola. Para cúmulo, tem sido um trampolim para a corrupção sem vislumbre de solução. Simplificando: – apesar da infame censura feita pelos comissões de redacção dos jornais públicos, uma enorme quantidade de portugueses de todos os partidos políticos, desde a extrema esquerda à extrema direita, no seu legítimo ponto de vista, preferia uma chefia de estado monárquica, a única forma de garantir a transparência democrática no exercício do poder e a consequente igualdade constituída pelo Rei e pelo Povo. Naturalmente, e por essas pesadas razões, o dia 5 de Outubro, como comemoração da implantação da República, deixou de ter qualquer significado para a nossa gente. Aliás, muitos portugueses, quando ouvem falar no 5 de Outubro, evocam sim a Fundação de Portugal como Reino, concretizada na Conferência de Zamora, realizada com a intervenção do Lafonense João Peculiar e a presença do legado pontifício Guido de Vico, e dos primos Afonso Henriques de Portugal e Afonso VII de Leão, no ano de 1143, onde foi reconhecido o título de Rei a D. Afonso Henriques. Mas esse facto histórico bem importante para a nossa vida de País Soberano e Independente não justifica actualmente a sua comemoração, igualmente ao que acontece com a comemoração da revolução republicana.

Mas, pelos vistos, assim não pensaram os responsáveis governamentais que aproveitaram a recuperação de feriados religiosos e do Primeiro de Dezembro, cujo retorno era querido pela esmagadora maioria da população, para nos impingirem, pela porta do cavalo, o 5 de Outubro republicano. Livra, como uma minoria ínfima, não democraticamente, tem influência neste país? “Vade Rectro Satanás!!!”.E, se têm dúvidas, promovam um plebiscito sobre o regime.

Torno a repetir, acho bem que os poucos republicanos que existem façam, nesse dia, romagens aos cemitérios e as comemorações que bem entenderem, mas, manter um feriado para comemorar a implantação da mal amada e de má memória Primeira República, que ninguém quer, isso não. Porque motivo fazer reviver um feriado político cujo capital de esperança se esgotou, esbatendo-se a sua memória no vai vem da vida?. Aliás, o mesmo aconteceu com o 28 de Maio, que teve o apoio de todo o País, ao contrário da Revolução Republicana.

O 5 de Outubro devia passar a simples efeméride histórica cuja evocação não pode nem deve continuar a dividir os portugueses.

Por esse motivo, será natural que me sinta lesado pela inacreditável recuperação de um feriado que actualmente nada diz aos portugueses, a não ser, com a sua íntima ligação à corrupção!!.

• António Moniz Palme-2016

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Redação Gazeta da Beira