A. Moniz de Palme (Ed. 728 + 729)

Edição 729 (7/12/2017)

A Incompetência gritante de quem gere os destinos do País

Que se visse, a Incompetência política tem sido a única produção dos responsáveis deste País, em relação à Agricultura e às causas dos permanentes Incêndios que grassam ciclicamente por todo o território.

Basta! Estamos fartos de incompetentes.

A Lei Eleitoral que temos, completamente ultrapassada e desajustada da realidade, permite que os partidos escolham os amigos e o coladores de cartazes partidários, que como pouco ou nada sabem, não estão preparados para a vida política e para a resolução dos problemas que sempre surgem, limitando-se a apoiar o seu chefe de fila, batendo palmas ou a acenando afirmativamente com a cabeça. Ficam-se por aí. Não têm a mínima capacidade para criar um espírito crítico e as necessárias soluções para os problemas do dia a dia com que o Parlamento permanentemente se debate. Resultado: – Como resposta às calamidades que temos sofrido, nomeadamente os Fogos, as consequências do errado Ordenamento Florestal e a falta de Prevenção, apenas têm sido tomadas soluções de ocasião, que são autênticos remendos mal geridos, sempre desajustados e caros, pois não se integram numa política global para as próximas décadas e muito menos numa política de contenção económica.

Ora, com a alteração da Lei Eleitoral, com círculos unipessoais, haveria um maior imediatismo entre o eleitor e os candidatos integrados nas diferentes listas. Todos os nomes conhecidos, cabecilhas de cada partido, iriam para uma Lista Nacional, concorrendo nela às eleições. Quanto aos restantes, mesmo que se mantenham os Círculos Distritais, já haveria uma maior mediação entre os eleitores e os candidatos apresentados, desde que, claro está, fossem criados Círculos Unipessoais, onde os concorrentes locais seriam sobejamente conhecidos e onde fariam valer os seus dotes, os seus conhecimentos e o trabalho prestado em prol da colectividade. E se não dessem conta do recado como deputados e exibissem a sua incompetência, seriam mais facilmente corridos, o que actualmente não acontece. Por outro lado, como a sua eleição seria independente da chefia do partido a que pertencem, teriam as mãos livres para dizer não e para emitirem opiniões livres ao centralismo partidário, acabando por desencadear a constituição de correntes de opinião dentro do próprio partido, circunstância essencial para que as organizações partidárias cumpram os seus deveres, perante a Democracia e a Liberdade, possibilitando a resolução dos problemas que nos afectam e não permitindo que os partidos se limitem a constituir centrais políticas de emprego para os respectivos apaniguados.

Talvez desse modo o número de deputados pudesse diminuir e a sua competência aumentasse!!!. Talvez desse modo os grupos partidários ganhassem outra força que não têm tido, e que apresentassem legislação sobre o enriquecimento sem causa, acabando-se de vez com a corrupção, sangria desaustinada do erário público!!! Talvez desse modo se consiga o congelamento e a posterior apreensão dos bens dos figurões de diferentes partidos que são acusados de ter roubado a colectividade e que continuam a viver livremente, em total impunidade, e apenas a tomar fôlego para continuarem as roubalheiras passadas.

Os políticos têm obrigatoriamente que vestir os trajes dos sábios, dos heróis do trabalho e das decisões difíceis, fazendo desaparecer, na opinião pública, a faceta de múmias paralíticas que agora vergonhosamente exibem. E não me venham dizer que no meu tempo de deputado o panorama era o mesmo. Tal não é verdade. Havia situações, consideradas injustas, que se pretendiam legalizar, mas que acabavam por ser derrotadas no Parlamento pelo bom senso e pela pressão feita pela maioria dos portugueses. Dispenso-me de dar exemplos, do tempo em que estive no Parlamento.

A Democracia verdadeira só existe com partidos com capacidade para a resolução dos problemas e tal assenta na competência dos respectivos deputados. Para tal, terão que ser livres na sua actuação parlamentar e essa qualidade consegue-se com a radical alteração da Lei Eleitoral. Para haver Democracia não basta a existência de Partidos Políticos, será necessária a existência de uma plataforma de Liberdade, que impeça que os mesmos não sejam apenas organizações blindadas, fechadas em si mesmas e destruidoras da própria Democracia, como hoje tristemente acontece. Se não, atrevo-me a usar um conhecido adágio popular, “O Castigo Anda a Cavalo”, isto é, a punição pela falta da Saúde da Democracia, é o rápido e inexorável aparecimento de um regime ditatorial. Eu não quero tal e julgo que a maioria dos portugueses raciocina do mesmo modo.

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Edição 728 (23/11/2017)

PADRE ANTÓNIO VIEIRA

Apareceu ultimamente, no panorama político português, uma série de estranhos intelectualoides, reveladores de personalidades inacreditáveis, que vieram à tona de água, a debitar e a propagandear uma actuação efectiva, não democrática, contra os valores e vontade do próximo. Claro que sempre existiram uns imponentes conselheiros “Acácios”, com a sua prosápia e falta de capacidade para resolver o que quer que fosse, ignorantes até mais não, caricaturados pelos escritores do século passado de forma nada elogiosa. Mas esta actual fauna política, além de eivada pela corrupção, exibe a maior incompetência possível, uma boçalidade chocante e escandalosa e um atrevimento inaudito na sua actuação, odiando a história do nosso Portugal, que apenas conhecem de raspão…!. Tal deve ser dado pelos valores que não possuem, pela falta de educação gritante e pela seita formada pelos seus próprios pares da incultura e que aproveitam a psicologia do grupo para se exibirem através de manifestações de rua e da consequente violência contra qualquer coisa que lhes apareça pela frente e lhes dê pretexto para cevarem os seus maus instintos. Esse tipo de gente constitui uma minoria ínfima, mas que se afirma de uma forma violenta, não respeitadora da liberdade do próximo e que, negando a tolerância democrática, tenta coarctar a liberdade de expressão e as decisões pretendidas pela maioria dos cidadãos. Esta casta de falsos intelectuais e de políticos de pacotilha, esconde-se como piolhos nojentos nas costuras e nas dobras urbanas das grandes cidades, incomodando a maioria da população com a sua agressividade de marginais. Infelizmente muitas vezes chefiados por responsáveis partidários do mesmo timbre e que aproveitam sempre todas as ocasiões para se exibirem, tolerados na sua actuação pelo medo da população que tem que ganhar o dia a dia para sustento da família. As sociedades democráticas não estão a salvo destes energúmenos que nunca são castigados pelos seus desmandos. Na verdade, este tipo de acções, que ofendem a democracia e a liberdade de expressão, não estão eficientemente previstas pela legislação, acabando por se tornar num trunfo de uma minoria que não permite a realização da vontade da maioria, obviamente receosa de ser agredida fisicamente e desfeiteada em plena via pública.

Lembro sempre que na altura do lançamento do oitavo volume da História de Portugal de Damião Peres, volume esse referente ao período da Segunda República do Estado Novo, da autoria de Franco Nogueira, na Assembleia Municipal do Porto, um responsável partidário, em plena primavera democrática, depois de criticar a autorização dada para ser publicado aquele importante trabalho histórico, teve o descaramento de avisar solenemente a Assembleia Municipal, com pompa e circunstância, que iria impedir tal evento com as suas mesnadas de caceteiros, impedindo a entrada na Casa do Infante, onde estava previsto ser lançada a referida obra histórica. Mesmo os que não concordavam com a orientação de tal trabalho e não fossem admiradores do posicionamento político do seu autor, o antigo embaixador Franco Nogueira, nada encontravam que justificasse a não apresentação do seu trabalho de investigação. Claro que tal responsável partidário saiu-se mal com tal ameaça e a apresentação do 8º Volume da História de Portugal decorreu sem qualquer contratempo, a não ser uma participação fora do vulgar de centenas de pessoas. Deste modo, uma obra histórica importante viu a luz do dia, sendo preservada a Liberdade Democrática.

Pois bem, actualmente, à falta de melhor, uma série de políticos da mesma linha, como pouco sabem e não têm competência para mais, descobrem falsos fantasmas na história, denegrindo figuras por todos respeitadas e admiradas há muitas gerações. E faço esta afirmação porque tenho ouvido ultimamente críticas à figura do grande Português Padre António Vieira, considerado um dos maiores vultos da oratória sacra de todos os tempos e grande defensor, no fim do domínio castelhano filipino, da plena liberdade do Homem, como ser pensante, independentemente da sua raça e credo. E é agora indecentemente acusado de esclavagista, de anti-semita, de explorador das populações indígenas brasileiras.

Tanta ignorância e má fé, até dói. Poderá haver diferentes opiniões acerca de diversas figuras históricas, mas sobre o Padre António Vieira é inconcebível, para quem conhece minimamente a sua difícil vida e a contínua luta contra os bens instalados. E para ilustrar o que estou a dizer, à laia de conversa de lareira, vou dizendo que o Padre António Vieira, nascido a 1608, foi viver para o Brasil, sendo ordenado na Companhia de Jesus em 1634. A sua fama nasceu não através da ocupação de cargos políticos bem remunerados, mas através da divulgação do ideal cristão através do púlpito e na catequização dos índios. Em 1641, teve que regressar, integrado numa embaixada para demonstrar o apoio brasileiro à Restauração. Como já estava a ser mal visto, pelos potentados locais, devido à protecção sistemática dada às populações indígenas e aos escravos, resolveu aceitar o lugar de pregador da Corte e de confessor de El Rei D. João IV, bem como a deslocação a diverso países europeus a defender a recente independência portuguesa. Com as costas guardadas pelo Monarca Restaurador, voltou ao Brasil, sendo portador de um decreto régio destinado a libertar os índios e iniciando uma fase de grande missionação e de luta contra a escravatura, denunciando firmemente os colonos nas suas relações prepotentes com os indígenas. Claro que, mal faleceu o Rei, todos os seus inimigos aproveitaram a ocasião para ajustar contas, conseguindo a sua prisão e a sua expulsão, em 1661, para Lisboa. Obtida a liberdade, foi então viver para Roma, onde conseguiu que a Santa Sé pedisse contas ao Santo Ofício sobre a forma como decorriam os julgamentos dos Cristãos Novos. A influência dos seus sermões, alguns ditos em latim e italiano, deram-lhe uma grande popularidade junto do Papa. Voltou ao Brasil em 1688, desempenhando o cargo de visitador, apesar da sua avançada idade, notabilizando-se como defensor, até à hora da morte, dos desprotegidos políticos e crítico intransigente dos poderosos. Convém não esquecer que foi António Vieira um acérrimo defensor do trancosano, Gonçalo Anes, o Bandarra, quando o sapateiro poeta e visionário foi apanhado nas malhas da Inquisição.

Perante o cenário da sua atribulada vida, como pode actualmente um político responsável, protestar pela existência de uma estátua do Padre António Vieira em Lisboa, onde viveu, e dizer publicamente que o grande campeão da liberdade era um esclavagista e um anti-semita? Só posso aceitar tal, se os autores forem anti-cristãos, pertencentes às escolas fundamentalistas que continuam a existir sob a égide de Hitler e de Stalin e que não permitem a liberdade de pensamento e de expressão do próximo.

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