Os Santos, Vítimas do Extremismo Religioso
Edição 727 (9/11/2017)
Os Santos, Vítimas do Extremismo Religioso
Sempre existem e existiram criaturas que se gabam do que fizeram, do que não fizeram e do que irão fazer no futuro. Enfim, a chamada gabarolice bem portuguesa. Recordo sempre de um João Fernandes, descrito na “Crónica dos Feitos da Guiné”, de Gomes Eanes de Azurara, que andou a exibir-se pelos conterrâneos, amigos e desconhecidos que iria conquistar África e ocupar a região da Guiné, adicionando adornos variados aquela tirada de fanfarrão sem pudor, para se vangloriar perante os papalvos que o ouviam. Lá partiu para as plagas africanas a cumprir o seu fado. Lá isso partiu, porém nada conquistou que se visse, acabando mesmo prisioneiro dos mouros durante longos anos!!!. Claro que, em contrapartida, sei bem de outro tipo de gente, desta vez corajosa até mais não, que no silêncio das suas almas, partia para longínquos locais desconhecidos, com culturas bem diferentes, para levar a Fé Cristã, a colectividades onde certamente pressentiam poderem ser passados pelas armas, mal iniciassem a doutrinação das populações locais. Basta recordar os Mártires do Japão e os milhares de missionários que, através dos tempos, tentaram propagar a Fé fora do seu país natal. Os Mártires do Japão, onde se incluíam sete portugueses, supliciados naquela região, foram beatificados por Pio IX, em 7 de Julho de 1867.Serviram a Fé sacrificando voluntariamente a sua vida e entregando-se conscientemente nas Mãos Divinas, no exercício do seu “munus” de missionários. Independentemente das vítimas do seu espírito cristão evangelizador, aparecem os que são exterminados por se atreverem a ter uma confissão religiosa diferente da seguida por determinada colectividade organizada. Todos conhecemos o barbarismo dos que invocando os interesses do seu deus, construído à sua maneira, matam sem dó nem piedade o seu próximo pelo facto de o mesmo não ter a mesma crença religiosa. E tais vítimas do extremismo religioso são evidentemente, na minha modestíssima opinião, uns SANTOS, quer sejam ou não canonizados. Os primeiros Santos nasceram às grosas, como todos sabemos, do conflito criado pelo crescimento e disseminação do cristianismo pelo Império Romano, na medida em que a nova religião punha em causa as antigas crença e tradições pagãs.Com essa confrontação de carácter religioso e cultural foi criada uma multidão de mártires que, apesar das ameaças feitas, mantinha a sua crença perante as perseguições feitas pelo poder constituído. Na altura, a Santidade era determinada pela veneração dos contemporâneos e pela colectividade onde o Santo vivia e exercia a sua doutrinação. Contudo, muitas figuras de santos devem ter ficado no tinteiro devido à não organização da igreja clandestina da altura, da ausência quase completa dos registos e do esquecimento dos que viviam no sobressalto permanente das perseguições que os esperavam a cada esquina. Actualmente, os elementos necessários para a santificação de alguém, exigidos pela Igreja, são a Veneração, a Beatificação e a Canonização, fundamentos apurados pela Congregação para a Causa dos Santos, instituída no Séc. XVII, sendo complementada pela Sagrada Congregação dos Ritos, que tem como tarefa específica avaliar todas as provas trazidas para apreciação do processo de candidatura de um possível Santo. Que me perdoem se a minha prosa peca pela falta de algum elemento essencial nesta matéria…!
Já agora acrescento: a VENERAÇÃO é sentida e expressa pela comunidade local onde viveu e trabalhou o possível Santo; a BEATIFICAÇÃO é constituída por uma análise mais cuidada e com sentido crítico das provas de santidade do candidato e a exigência de um milagre comprovado, consequência da intercessão do possível Santo; e a CANONIZAÇÃO, resulta de uma longa análise de todas as provas existentes e dos milagres verificados, como por exemplo a recuperação cientificamente inexplicável de estados intratáveis ou terminais.
Claro que muitos outros factores de santidade, desde os primórdios dos Séculos, são verificados nas perseguições religiosas feitas pelo extremismo das sociedades politicamente organizadas. E os cristãos também pecaram, nessa matéria, não respeitando as crenças alheias, como foi o comportamento deplorável havido, nomeadamente com os judeus. É bom não esquecer que as perseguições na União Soviética, por motivações religiosas, redundaram nos tempos actuais numa panóplia de cerca de 20 000 santos conhecidos, fora a multidão anónima que foi dizimada pelo facto de ter uma Fé e de não A negar. No mundo actual, desde a Ásia à África, apesar do progresso científico actual, são assassinadas multidões de crentes pelo simples facto de não abjurarem da sua Fé. O fanatismo do extremismo muçulmano é a prova cabal do que acabo de dizer.
Esta introdução mais não é do que o modo de invocar um Mártir bem Português, Padre António da Costa, natural do Senhor da Serra, no Concelho de Miranda do Corvo. Foi ordenado sacerdote em Espanha e integrado na Ordem dos Carmelitas Descalços. Apesar das perseguições feitas aos cristãos durante a Guerra Civil, o Padre António regressou a Espanha, ao seu Carmelo de Toledo, decidido a morrer com a sua comunidade cristã se necessário fosse. E, na verdade, segundo nota recolhida e divulgada no jornal “O Amigo do Povo”, acabou por ser preso e fuzilado, ao que consta de cabeça para baixo, entre os dias 22 a 31 de Julho de 1936. Juntamente com o Padre António foram fuzilados mais 17 carmelitas descalços daquela comunidade.
Ora, os Cristãos têm que cerrar fileiras para tentar impedir que estes crimes se continuem a praticar, procurando influenciar os responsáveis de cada comunidade a tudo fazerem para acabar planetariamente as atrocidades que são cometidas no dia a dia, em todos os cantos do Mundo. Na realidade, a verdade é esta :- o Espírito Cristão e o respeito pela Liberdade de Pensamento estão intimamente ligados.
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