A. Bica – Reflexões sobre a vida e o mundo (8)

Reflexões do falecido José Pereira sobre a vida e o mundo em manuscrito que me foi confiado

A hipótese da explosão inicial (big bang) explicativa da origem do universo não é convincente

As distâncias entre os seres densificados existentes em cada galáxia detectável directa ou indirectamente por instrumentos a partir da Terra e das naves enviadas para o espaço exterior a ela (as estrelas com os seus planetas, nuvens de poeira e outros corpos de cada uma dessas galáxias) são tão grandes em relação ao tamanho de cada um que se pode comparar, para intuitiva compreensão, à relação existente entre a massa de um grão de poeira e a de todo o sistema solar. Por menos densa que seja a matéria (no que se inclui as chamadas matéria e energia negras) existente em metade do espaço que medeia entre uma galáxia e outras, a totalidade da sua massa corresponde em média a cerca de 19 partes em 20 da matéria densificada dela (as estrelas, os planetas, os planetésimos, os cometas e os aglomerado de poeiras). Na nossa galáxia a estrela mais próxima do Sol está a cerca de dez anos luz, o que corresponde  aproximadamente a 9,5 milhões de milhões de quilómetros de distância. Existindo matéria nos enormes espaços esféricos em redor do Sol e dessa estrela, por menos densa que seja essa matéria, corresponderá a quantidade muito superior à de ambas as estrelas e dos seus sistemas planetários, o mesmo acontecendo com todos os astros existentes na Via Láctea.

Assim entre as galáxias e dentro delas existirá matéria designada energia negra e matéria negra. Isso poderá explicar a razão por que a luz das galáxias distantes chega à Terra com desvio para o vermelho, que resultará de provável afectação das suas ondas ao atravessar essa matéria. A distinção entre matéria e espaço será conceptual, não existindo espaço sem matéria nem matéria sem espaço, mas apenas matéria mais ou menos densificada, correspondendo o que designamos espaço às dimensões físicas da matéria (muito ou pouco densificada) e o movimento de toda a matéria entre si à dimensão do universo designada tempo. Max Planck afirmou, nessa linha de pensamento, que, apesar do grande sucesso da teoria atomista, ela deve ser abandonada pela aceitação da continuidade da matéria. Se assim for, tornar-se-á desnecessário explicar o desvio da luz para o vermelho pela suposta expansão contínua do universo; e não será necessário entender que todas as galáxias se afastam entre si continuamente. Umas afastar-se-ão, outras se aproximarão em regra durante muitíssimo largo tempo até se fundirem. E com os corpos astronómicos o mesmo acontecerá. Da observação astronómica parece resultar evidência disso.

Se o espaço entre os astros e outros seres densificados de cada galáxia e também entre as galáxias fosse vazio, nada conteria nem energia (que é equivalente a matéria) e não haveria meio físico para as ondas electromagnéticas se propagarem nele por ondulação. A existência de matéria muito pouco densificada entre as galáxias, além de possibilitar a transmissão das ondas electromagnéticas, explicará a chamada “radiação de fundo” do universo, que não corresponderá a radiação originada na grande explosão inicial (o chamado big bang), mas à radiação proveniente das galáxias situadas a distâncias de muitos milhares de milhões de anos de anos luz e superiores. Essa radiação chegará à Terra perdendo energia e sendo afectada nas características da sua ondulação electromagnética em função das distâncias a que cada galáxia se situa em consequência da radiação em divergência esférica e da resistência oferecida pela matéria intergaláctica à sua progressão, como ondas de outra natureza (as sonoras e outras) propagando-se em meio sólido, líquido ou gasoso são afectadas ao progredir nele.

A generalizada e entusiástica adesão à hipótese de explosão inicial criadora do universo, incluindo pelas estruturas religiosas de poder, resultará do forte enraizamento da milenar cultura de explicação da existência do mundo por criacionismos míticos. A atribuição da origem do universo a explosão inicial criadora dele sem se explicar a razão por que ela surge é semelhante à sua atribuição à criação por deus ou deuses como fazem as cosmogonias míticas. Os que entendem que deus único é o criador do universo consideram deus inexplicável. É mais sensato ter-se modesta atitude de admitir que por enquanto não se sabe como surgiu tudo o que existe, o universo.

As recentes observações pelo telescópio espacial Planck lançado em 2009 pela Agência Espacial Europeia levaram recentemente (2012) à conclusão de que, segundo o modelo explicativo chamado explosão inicial (big bang), o universo terá 13.820 milhões de anos. Essa estimativa assenta na actual melhor capacidade de medição do afastamento para o vermelho das ondas electromagnéticas e de mais precisa observação das ondas electromagnéticas emitidas por corpos astronómicos cada vez mais distantes da Terra. De observações anteriores resultava idade do chamado big bang muito inferior. Com  o desenvolvimento tecnológico das últimas cerca de 5 décadas a idade de universo após o chamado big bang passou a ser calculado em 13.700 milhares de milhões de anos. Actualmente, há muito pouco tempo, o cálculo da idade do universo de acordo com o modelo do big bang alargou-se em cerca de 120 milhões de anos, passando para 13.820 mil milhões de anos.

Segundo o modelo da explosão inicial, que supõe a contínua expansão do universo, as ondas da primeira emissão de luz após ter acontecido a explosão inicial sofrem alargamento para o vermelho em consequência da expansão. Nesse pressuposto, da medição do alargamento das ondas electromagnéticas, isto é do seu desvio para o vermelho, resultará a determinação do tempo em que terá ocorrido o início do universo. À medida que tem melhorado a capacidade observação do desvio para o vermelho da luz vinda do espaço intergaláctico, a idade do universo tem, como se referiu, aumentado, afastando o tempo em que terá ocorrido a explosão inicial (big bang). Isso continuará previsivelmente a acontecer com o aperfeiçoamento da capacidade de detecção da luz emitida por objectos situados as distâncias cada vez maior da Terra. Mas esse desvio poderá, como se propõe, ser explicado por as ondas electromagnéticas ao propagar-se pela muito ténue matéria intergaláctica serem afectadas por ela, causando o chamado desvio para o vermelho.

Um dos argumentos a favor da explosão inicial (big bang) como modelo explicativo da origem do universo são as distâncias em relação à Terra de milhares de milhões de anos luz a que se situam quasares (astros de muito grande massa e muito densos emissores de enormes quantidades de luz). O primeiro descoberto, na década de 1960, estará a cerca de dois mil milhões de anos luz, estimando-se a distância em função do desvio da luz por ele emitida e chegada à Terra. Recentemente foi detectado outro (provavelmente há muito tempo extinto) que se situará a 13,4 mil milhões de anos luz de nós, portanto a cerca de 770 milhões de anos luz da hipotética explosão inicial. Considera-se que os quasares são muitíssimo densos emitindo estreita e muito concentrada radiação muito potente, calculando-se que este último quasar terá massa correspondente a um milhar de milhões de sois. Da radiação proveniente deles deduz-se ser emitida por corpos de massa e densidade muito grandes, girando sobre si a altíssima rotação, podendo ter origem no colapso de gigantescas aglomerações de matéria.

Depois de 1995 foram também detectadas galáxias a grandes distâncias da Terra. Em 2012 uma das detectadas estará a cerca de 400 milhões de anos luz depois do big bang, calculada a distância pelo desvio para o vermelho da radiação por ela emitida. (Ver sobre estes quasares e distantes galáxias a revista Cientific American de Abril de 2014).

O observado desvio para o vermelho da radiação proveniente desses longínquos quasares e distantes galáxias levaria necessariamente à conclusão, se o universo teve origem no big bang, que a Terra se situa na periferia do universo em relação à presumida explosão inicial, dado que se calcula a idade do universo pelo tempo que demorará a radiação electromagnética emitida pela explosão inicial a chegar à Terra. Se assim fosse, entendendo-se que a Terra se situa a distância próxima da correspondente ao espaço que medeia entre ela e o ponto em que terá ocorrido a explosão inicial (big bang), teria que haver evidência de que não se observam outros corpos celestes emissores de luz a muito grandes distâncias no quadrante do universo oposto àquele em que se observam esses corpos celestes mais distantes dela (portanto tidos por mais próximos do ponto em terá ocorrido a explosão inicial). Mas não consta das publicações, que consideram que os mais longínquos quasares teriam sido formados pouco depois da hipotética explosão inicial (big bang), que a radiação emitida por eles tenha sempre origem no mesmo quadrante do universo em relação à Terra, nem que não sejam observados em outros quadrantes. Se o universo teve origem em explosão inicial, os quasares mais longínquos têm que se situar no quadrante do universo em que se terá situado a explosão inicial. Pelo contrário não se deverão poder observar a partir da Terra quasares longínquos nem galáxias muito distantes situados no quadrante oposto àquele em que se terá situado a explosão inicial. A emissão de luz por todos os corpos celestes desse quadrante (o oposto àquele em que se situarão os corpos celestes mais distantes) terá que indicar que se situam a muito menores distâncias da Terra. Mas não há evidência disso e portanto de que a Terra se situa na periferia do universo. Pelo contrário do observado parece resultar situar-se a distância semelhante de todos os múltiplos corpos observáveis da esfera celeste e dos conjuntos deles (galáxias), como se a Terra ocupasse o centro do universo, o que é compatível com a hipótese de o universo ser infinito em tempo e extensão.

Sendo assim, ter-se-á que concluir que, situando-se a Terra a cerca de 13,4 milhares de milhões de anos luz dos corpos celestes mais distantes dela segundo a teoria do big bang, se forem observados corpos celestes aproximadamente tão distantes em outros quadrantes do universo [diferentes daquele em que hipoteticamente terá ocorrido a explosão inicial criadora do universo (big bang)], não sendo suposto ter havido múltiplas e simultâneas explosões originaddoras do nosso universo, o universo não terá tido origem em presumida explosão inicial, mas, pelo contrário, não terá começo nem fim em espaço e tempo.

O grande cientista Stephen Hawcking (e muitos outros) é defensor da explosão inicial (big bang) como hipótese explicativa da origem do universo, mas, sem deixar de se ter pelo seu pensamento muito grande respeito, isso não pode inibir reflectir-se diferentemente sobre o universo ter ou não tido origem em explosão inicial (big bang).

Por outro lado o referido modelo explicativo da origem do universo por explosão inicial (big bang) é contrariado por argumento que não parece facilmente ultrapassável: Se toda a matéria que constitui o universo esteve concentrada num quase ponto, a sua massa teria sido tamanha (consequentemente a sua coesão gravítica), por corresponder a toda a matéria existente no universo, que seria impossível a explosão da massa superconcentrada nesse quase ponto, a não ser em consequência de força muito superior e contrária à da gravidade. Mas se essa força pré-existia à concentração de toda a matéria nesse quase ponto, tê-la-ia impedido. Se não pré-existia, tem que encontrar-se hipótese explicativa racional para a sua súbita origem. Os defensores desse modelo, abstendo-se de se pronunciar sobre estas questões, consideram que essa força dispersante de toda a matéria do universo se mantém, prevalecendo sobre a da gravidade e causando a contínua expansão da matéria inicialmente hiperconcentrada num quase ponto, sem hipótese credível explicativa dela, nomeadamente por que razão, sendo essa força contrária à da gravidade, não a anula. Se anulasse, impediria todo o processo de organização da matéria posterior à explosão inicial que resulta da acção da força da gravidade, incluindo a formação das galáxias, das estrelas e dos corpos superdensos (buracos negros) não emissores de luz.       Os físicos que defendem este modelo (a explosão inicial também chamado big bang) consideram que essa força (que estará na origem da explosão inicial) se mantém, sendo permanentemente expansora do universo. Entendendo-se que o desvio para o vermelho da radiação proveniente das galáxias não resultará dessa força expansora do universo, mas de o espaço intergaláctico ser preenchido por matéria, embora muitíssimo pouco densificada, que afecta a propagação das ondas electromagnéticas, deixa de ser necessária essa explicação para justificar o desvio para o vermelho da luz emitida por galáxias distantes da Terra.

Poderá contra-argumentar-se que, não existindo essa força expansora, o universo necessariamente colapsará convergindo tendencialmente toda a matéria num só ponto. Isso não acontece, porque a força da gravidade, embora atraindo entre si os corpos, tende a fazê-los circular à volta de ponto de gravidade comum e não a fundir-se, sem prejuízo de a fusão acontecer em regra em tempo muitíssimo dilatado. Mas quando a fusão entre corpos do universo se dá com grande concentração de matéria em consequência da mútua atracção gravítica, a energia produzida em consequência dela tende a fazer dispersar de novo a matéria de que esses corpos se compõem, o que acontece por explosão das chamadas supernovas, por emissão de poderosos jactos de partículas e por radiação dos quasares, dos pulsares, dos outros astros muito densos (incluindo os buracos negros segundo Stephen Hawcking) e de todas as estrelas. Assim, em ciclo de permanente renovação ao longo da infinitude do tempo, a matéria, que a força da gravidade continuamente concentra em corpos progressivamente mais densos, é permanentemente devolvida ao espaço exterior a eles, onde a força da gravidade sempre a vai fazendo coalescer dando origem a novos corpos densificados.

NOTA: A transcrição do escrito pelo falecido José Pereira foi autorizada pela família.Redação Gazeta da Beira