A. Bica (Ed. 694)

O UNIVERSO DE QUE SOMOS PARTE (34) - A política dos EUA para dominar o petróleo do Médio Oriente

A política dos EUA para dominar o petróleo do Médio Oriente

• António Bica

No Médio Oriente estão as grandes reservas de petróleo conhecidas que parece se  terem formado nas zonas onde, nos passados tempos geológicos, terão desaguado grandes cursos de água carregados de matéria orgânica que, depositada, terá evoluído formando  grandes  bolsas de petróleo e gás combustível.

É de admitir que em todo mundo venham a ser encontradas novas grandes jazidas de petróleo, além das já conhecidas no Médio Oriente, no golfo do México, na bacia do Amazonas e na área marítima circundante da sua foz, no golfo da Guiné, no Mar Amarelo (entre a China e o Japão), no sudeste asiático, no mar da foz do rio Zambeze e noutras zonas onde terão desaguado ao longo dos tempos geológicos grandes rios.

Mas hoje a maior reserva de petróleo conhecida e em exploração situa-se no Médio Oriente até ao Cáucaso.

Por outro lado o grande limitante ao desenvolvimento económico é a energia.

Os Estados Unidos da América do Norte, que querem manter a supremacia económica, militar e política no mundo para ditar as regras dele em benefício deles, têm por isso interesse em manter no Médio Oriente a testa de ponte militar que é o Estado Judaico dependente dos EUA. O Estado de Israel enfraquece e divide os países árabes e muçulmanos próximos, que não se têm unido com firmeza para a defesa eficaz dos direitos dos palestinianos à sua terra, e é apoio disponível em caso de acção militar que os EUA quiserem empreender para manter sob o seu domínio a área petrolífera do Médio Oriente.

Por estas razões os EUA, que desde que em 1948 Israel ocupou largos territórios palestinianos para talhar as suas fronteiras, expulsando muitas centenas de milhares de palestinianos das suas casas e terras, sempre apoiaram o sistemático desrespeito pelos judeus israelitas das resoluções das Nações Unidas condenadoras das infracções cometidas por eles contra o direito internacional e os palestinianos.

O governo dos EUA estava fundamentalmente preocupado, nas décadas que se seguiram à Segunda Grande Guerra até ao colapso da União Soviética, em impedir nos países árabes e muçulmanos o desenvolvimento dos regimes modernos progressistas defensores da separação entre o Estado e a religião, da igualdade entre homens e mulheres, do desenvolvimento económico e do progresso social, que haviam sucedido às monarquias de tipo feudal instaladas pelos ingleses, depois de 1918 e da retirada dos turcos, no Médio Oriente. Os ingleses tiveram então o cuidado de separar as áreas territoriais dos países do Médio Oriente do Médio Oriente em que sabiam haver petróleo, retirando-as aos países a que sempre historicamente haviam pertencido, como o Queite que integrara o Iraque, e o Qatar, o Barein e outras que integraram a Arábia hoje dita Saudita, tendo feito isso para melhor controlar económica e politicamente as áreas produtoras de petróleo.

Desde ca Segunda Guerra mundial os EUA, quando sentem ameaçado o controle do petróleo do Médio Oriente, reagem duramente como fizeram na década de 1950 com o Irão.

Na execução desta linha política e militar os EUA fizeram apelo, através dos seus serviços secretos, ao apoio das correntes mais retrógradas e fundamentalistas do Islão, com destaque para a corrente wabita seguida pelo regime ditatorial da monarquia que governa a Arábia Saudita, com firme empenhamento militar, diplomático e económico. Assim têm apoiado o fundamentalismo religioso islâmico que se foi desenvolvendo com base em instituições de apoio social (equivalente ao que no cristianismo se designa por caridade) em todos os países do Médio Oriente, assim procurando criar nesses países apoio social, religioso e político para neles expandir a linha religiosa fundamentalista retrógrada do wabismo saudita. Fê-lo sob orientação directa e indirecta dos EUA, para se opor aos regimes progressistas dos países muçulmanos do Médio Oriente. Os Irmãos Muçulmanos integristas no Egipto, o Hamas na Palestina, os Talibãs no Paquistão e outros movimentos religiosos integristas como o Boko Haram e os Salafitas e são do tipo do wabismo saudita e por ele coordenados, financiados e treinados.

Quando, no início da década de 1970, a monarquia do Afeganistão foi substituída, mediante eleições, por regime republicano, progressista, laico, defensor da igualdade das mulheres e dos homens e da separação entre o Estado e a religião, os EUA deram apoio directo e indirecto, através do wabismo da Arábia Saudita, à reacção armada interna afegã defensora do controle da religião sobre o Estado e da manutenção dos velhos costumes de raiz tribal. Isso levou ao grave erro político soviético de envio de tropas para o Afeganistão a pedido do regime progressista. Os EUA da era Reagan, na década de 1980, deram apoio financeiro e político ao recrutamento de fundamentalistas religiosos muçulmanos em todo o mundo, sobretudo na Arábia Saudita, e também em todo o mundo islâmico e nas grandes cidades da Europa e dos EUA onde a Arábia Saudita tinha financiado a instalação de grandes mesquitas com envio de pregadores a difundir a corrente religiosa wabita. Assim afluíram ao Afeganistão milhares de jovens combatentes islâmicos para combater o recente regime progressista financiados, treinados e armados pelos americanos. Esses jovens combatentes foram enquadrados por responsáveis políticos sauditas, entre eles Bin Laden e outros.

Regressando atrás, á década de 1960 na Palestina, os diversos movimentos de resistência à ocupação israelita haviam criado organização de coordenação para lhes dar unidade e eficácia, a O L P de orientação laica, defensora da igualdade entre homens e mulheres e defensora de liberdade religiosa. Em resposta os judeus de Israel agiram provocatoriamente com vista a desencadear reacções que lhes permitissem invocá-las para atacar. Assim, em Abril de 1967, mandaram tractores blindados, na região da Galileia, para a faixa da “terra de ninguém” que separava o território sob ocupação militar israelita do território da Síria. Os sírios responderam com tiros de armas ligeiras e pediram ao Egipto, então governado por Nasser, apoio militar. Em resposta, Nasser pôs de prevenção tropas.

O objectivo israelita era atacar para enfraquecer económica e militarmente o Egipto e anexar o restante território palestiniano até ao rio Jordão e os montes Golã (território da Síria). Invocando como pretexto a mobilização militar egípcia, os judeus de Israel atacaram de surpresa, com aviões, na madrugada de 5/6/1967, destruindo no chão os aviões sírios e os egípcios e, assim, livres da defesa aérea, ocuparam com blindados o Sinai (no Egipto) até ao canal do Suez, paralisando o trânsito de navios no Canal, os montes Golã (na Síria) e todo o território palestiniano até ao rio Jordão.

A guerra acabou em seis dias, o que não deu tempo para os militares de Israel expulsarem dos territórios palestinianos, que ocuparam até ao rio Jordão, os palestinianos que neles viviam e vivem, como haviam feito em 1948 nos territórios palestinianos que então ocuparam, como pretendiam. A maior parte dos palestinianos resistiu nas suas terras e nas casas sob a ocupação judaica israelita e tem continuado desde então longo calvário de resistência.

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Redação Gazeta da Beira